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Miró da Muribeca, poeta pernambucano, saudades

Crédito da foto: vermelho.org.br

Miró da Muribeca, um dos nomes mais singulares e importantes da poesia marginal pernambucana e brasileira.

Sentir saudades de Miró é sentir falta de uma voz autêntica, crua e profundamente conectada com a realidade social e as periferias.

Saudades de Miró da Muribeca

Crédito da foto: negre.com.br

Miró não era poeta para gabinete, 
Mas para a vida dura, para o chão. 
A sua rima vinha no estilete, 
Cortando a carne de toda ilusão. 
Poeta de Muribeca, de verdade, 
Caminhando contra o caminhão.

Ele falava do que ninguém via: 
Do cheiro do esgoto, 
do busão lotado, 
Da periferia que não era poesia 
No verso bonito e bem arrumado. 
Ele fazia a arte da denúncia, 
Com o coração sempre esfolado.

O seu verso não pedia licença, 
Entrava na alma sem perguntar. 
Tinha a dor da ausência, 
E a urgência de gritar. 
O seu legado é de coragem, 
Pra quem soube o que é sangrar.

Saudades de Miró, o gigante, 
Que nos deixou cedo demais, 
Mas deixou a poesia vibrante, 
Com a força de quem não se refaz. 
Sua palavra é eterna e cortante, 
E o seu Recife chora em paz.

Jacytan Melo, poeta, músico e sonhador / dezembro/2025


Miró nos deixou em 2021, mas sua obra, como o aclamado livro "Sangue de Barata", continua a influenciar a poesia contemporânea.

Algumas poesias de Miró da Muribeca

Há Deus

Deus fez o homem
e com o tempo foi deixando ele criança
cabelos brancos
dormindo depois do almoço
jogando no bicho
ou indo capenga aceitar Jesus

Deus fez o homem
com um cimento tão raro
misturou com uma areia tão fina
que é bem provável
que a gente volte ao barro

Providências de vida

olho pra mim
torno o olhar
a morte toca
em meu ombro direito

rapidamente
guardo todos os meus segredos
no bolso esquerdo
da calça

no direito
alguns cruzeiros
e pra não morrer
feio beijo o espelho

*Poemas do livro “Miró até agora”, Cepe Editora, 2019.

A força de Miró reside justamente em nomear a dor e a invisibilidade social com uma honestidade brutal.


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