O Nada era um silêncio anterior,
Uma tela preta, vasta, sem moldura.
Onde o tempo não tinha ainda exterior,
E a espera era a única criatura.
Aguardava o sopro, o verbo, o clarão,
A primeira partícula em ignição.
Então o ser irrompeu,
um risco na escuridão,
Do Nada fez-se a pressa,
a matéria e o começo.
E o homem, com sua vã imaginação,
Deu nome ao destino, deu preço ao avesso.
A vida, um rápido relâmpago,
Entre o zero e o derradeiro estardalhaço.
E a jornada se fez de pontes e de quedas,
De risos altos, de juras e de enganos.
A construção frenética de todas as veredas,
Para evitar o fim que é de todos os planos.
Amamos, lutamos, construímos castelos,
Crendo que a vontade desafia os elos.
Mas cada batida do relógio é um recuo,
Um grão de areia a menos na ampulheta fria.
Cada conquista é o adeus de um minuto,
E a história caminha para a calmaria.
Aceleramos o ciclo, o consumo voraz,
Trocando o sentido por aquilo que se desfaz.
E o fim se aproxima, sem alarde ou fanfarra,
Não como explosão, mas como desfecho lento.
A matéria se cansa, a luz se amarra,
E o tempo recolhe seu próprio movimento.
A vasta soma dos nadas acumulados,
Converge para o único porto, o silêncio.
Chegamos a O Acabou-se, não por castigo,
Mas por lógica pura, por simples finalidade.
É a tela que volta ao preto antigo,
A conclusão da nossa efêmera vaidade.
Do Nada viemos para o Nada retornar,
E a curta história entre os dois foi o nosso amar.
Jacytan Melo, poeta, músico e sonhador / dezembro, 10, 2025


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