Eu visto o dia como quem veste um traje, Um corte perfeito, um tecido de seda, Mas por baixo do pano, em minha miragem, A alma está nua, no chão, em segredo. Aplaudo as vitórias que dizem ser minhas, Sorrio pro espelho, mas não me reconheço. Sou feito de aspas, de falas alheias, Um livro bem impresso, mas falta o começo. Tenho medo do instante em que a luz for mais forte E mostre a costura do que eu inventei, Que vejam que a força foi apenas sorte, Ou um papel decorado que eu bem decorei. Caminho entre a gente fingindo o prumo, Enquanto por dentro o barco balança. Sou mestre da cena, mudo de rumo, Mas sinto o cansaço dessa segurança. Contudo, pergunto no fim da jornada: Quem nunca montou um castelo de areia? A farsa é o humano que, na caminhada, Tenta ser inteiro sob a lua cheia. Talvez o segredo de quem se sente assim, Seja aceitar que o rascunho é real. Que a farsa é apenas o medo, en...
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