A noite desce densa, sem estrelas,
E o eco da pergunta se repete.
Quem sou eu?
Por que estas longas velas
Que em meu barco sem rumo se acomete?
Um nó na garganta, um vácuo no peito,
A dança dos porquês sem ter resposta.
O mapa da vida que parece desfeito,
Uma sombra longa, a visão contraposta.
As pontes que queimei, os caminhos refeitos,
As palavras ditas, as que se calaram.
São pedras no ermo, em montes desfeitos,
Testemunhas mudas do que me formaram.
O mundo lá fora prossegue seu giro,
Com pressa e certezas que não me alcançam.
Enquanto o meu espírito, em lento suspiro,
Busca a lógica em fragmentos que dançam.
Para que tanto esforço, se o fim é o mesmo?
Qual o propósito em cada amanhecer?
Será que o sentido é só este abismo
Que insiste em me engolir, em me preencher?
A rotina vazia, os sorrisos forçados,
A busca insana por algo que faça
O coração bater, os olhos molhados
Enxergarem um rumo, uma tênue graça.
Mas na fenda da dúvida, no medo profundo,
Há um sussurro fraco que ainda insiste:
Talvez a resposta não seja o fim do mundo,
Mas a coragem de ser, de que ainda existe
Um brilho no caos, um pequeno farol,
Que guia este barco, que quebra o lençol
Da incerteza fria, da dor que me arrasta.
E a crise se torna, quem sabe, um basta.
Um novo começo, um reescrever.
A aceitação plena do que é viver.
Jacytan Melo, poeta, músico e sonhador / dezembro, 12, 2025
Blog das criações literárias de Jacytan Melo: versos, poesias e contos.


Comentários
Postar um comentário